Futebol Americano

A história do jogo, as regras, os campeões dessa paixão também brasileira

início e desenvolvimento do esporte

Disputado de forma amadora, o futebol americano nos seus primórdios era praticado principalmente por universitários e vivia, digamos, um conflito entre a inspiração mais próxima, rugby, e o seu “parente” do começo do século 19, football (chamado de “soccer” nos EUA).

O início do jogo se deu com o primeiro college football, disputado entre as universidades de Rutgers e Princeton, em 1869. Eram dois times de 25 jogadores cada disputando o controle de uma bola redonda, que podia ser tocada com a mão, o pé ou a cabeça, mas não carregada.

Mais adiante, em 1876, as faculdades de Yale, Harvard, Princeton e Columbia resolveram criar a Intercollegiate Football Association (Associação de Futebol Inter-universitária), com o intuito de padronizar as regras do jogo.

Basicamente, optou-se por seguir mais para a direção do rugby, jogado com uma bola oval e usando predominantemente as mãos. Considerado “pai do futebol americano”, Walter Camp, aluno e atleta de Yale, teve papel importante para que o jogo virasse o que conhecemos atualmente ao criar o sistema de “downs”: toda vez que o jogador da posse da bola fosse derrubado, o juiz interromperia a disputa para que os times se realinhassem e reiniciassem a partida em uma nova jogada, uma nova descida (novo “down”).

Mas diferentemente das formações de “scrum”, usadas no rugby, onde os jogadores dos dois times se juntam com a cabeça abaixada e se empurram com o objetivo de ganhar a posse de bola, no futebol americano o center, jogador que faz o “snap”, entrega a bola entre as suas pernas para o quarterback, que então define a jogada do time (geralmente, passe ou nova entrega a um atleta para realizar a corrida). Isso é feito com os jogadores de defesa e ataque, todos posicionados na linha de “scrimmage”, uma linha imaginária transversal que corta o campo e define o ponto onde começa a jogada, onde fica a bola. O “QB” também pode optar por correr com a bola.

Walter Camp definiu que o time da posse da bola teria três chances para avançar cinco jardas (hoje são quatro chances para dez jardas). Não conseguindo, devolveria a bola ao adversário com um chute (“punt”). O número de atletas por time, 11 de cada lado, também foi por obra dele, bem como o sistema de pontuação distinto daquele adotado pelo rugby:

  • Quatro pontos para o time que marcasse “touchdown” (hoje são seis), quando o jogador chegasse com a bola na área adversária (“endzone”).
  • Os mesmos atuais dois pontos seriam dados para um “safety”, que é uma espécie de gol contra do futebol americano, quando o atleta com a posse da bola é derrubado em sua própria área.
  • Dois pontos para um gol depois do “TD” (hoje o “extra point” vale 1 ponto, tendo o chutador que acertar a bola no meio do “Y”, a trave).
  • Cinco pontos para o “field goal” (o gol por meio de chute do ponto onde acabou a jogada anterior), que atualmente rende apenas três pontos.

Mortes, ameaça de proibição e mudança que transformou o jogo

Esporte de muito contato físico, o futebol americano atual é repleto de regras em prol da saúde dos atletas. Mas não era assim no início. Sequer havia equipamentos de proteção, e o fato de a modalidade na época basicamente estar restrita a corridas e passes curtos laterais, sem a permissão lançamentos para a frente, fazia com que os jogadores ficassem todos concentrados em uma faixa curta de campo, gerando muitas pancadas. Era um vale-tudo que resultou em uma série de lesões e mortes no início do século 20.

Em 1905, 18 atletas universitários foram a óbito. Eram alunos de Harvard, Yale e Princeton, entre outras faculdades, filhos de banqueiros e políticos importantes, gerando péssima repercussão no governo dos Estados Unidos, a ponto de o presidente da época, Theodore Roosevelt, ameaçar proibir a modalidade. Exigiu a implementação de regras que tornassem o futebol americano mais seguro, e assim foi feito. Destaque para a mudança que transformou completamente o esporte: o até então proibido passe para a frente (“forward pass”) passou a fazer parte das regras. A ideia foi do ex-jogador da Brown University e treinador John Heisman (desde 1935 ele é homenageado com seu nome no “Troféu Heisman, dado ao melhor atleta de cada temporada no college football norte-americano).

Válida oficialmente a partir de 1906, a possibilidade de passe para frente reforçou de vez a identidade própria do esporte, diferenciando-se ainda mais do rugby. De quebra, valorizou a função do responsável pelos lançamentos, “quarterback”, posição vital para o futebol americano, e enriqueceu o repertório de jogadas: de um “bolo” de atletas se batendo, passou a ter maior dinamismo, com atletas mais bem distribuídos, movimentações, avanços rápidos, dribles e passes. Também aumentou de três para quatro o número de descidas (“downs”) a cada posse de bola, como é na atualidade.

Início conturbado da profissionalização

Menos violento e muito mais tático, o futebol americano viveu um boom de praticantes e de telespectadores a partir da década de 1920, com o seu interesse indo além do meio universitário.

Iniciava ali a era profissional com a criação da American Professional Football Association (APFA), que passou a se chamar National Football League (Liga Nacional de Futebol Americano) em 1922.

Equipes fundadoras da APFA

Apesar do nome, ainda não era a atual NFL. Times surgindo e desaparecendo, regulamentos confusos, dificuldades financeiras e improvisos marcaram esse pontapé inicial do profissionalismo da bola oval nos Estados Unidos.

A bagunça chegou ao ponto máximo em 1932, quando Chicago Cardinals (atual Arizona Cardinals) e Portsmouth Spartans (hoje Detroit Lions) decidiram aquele campeonato jogando dentro de uma arena de circo, num campo de apenas 80 jardas, improvisado, coberto de feno e fezes de elefante, em vez de grama.

Isso se deveu à falta de condições do estádio de Chicago, após uma forte nevasca.

Arrumando a bagunça e melhorando a liga

O “circo” da final em Chicago fez a liga melhorar a gestão do campeonato. Times sem estrutura deram lugar a gigantes, que seguem até hoje na atual NFL, tais como Pittsburgh Steelers (Pirates, na época), Philadelphia Eagles, Washington Redskins (então chamado de Boston Braves) e Rams (Cleveland Rams, na época, passando depois a St. Louis e atualmente uma franquia de Los Angeles).

A implantação de novas regras também ajudou a aumentar a dinâmica e emoção do jogo. Atendendo a um pedido dos quarterbacks, a NFL mudou o tamanho e formato da bola, até então muito parecida a de rugby. A bola da liga ficou um pouco menor e mais pontuda, possibilitando passes bem mais precisos e longos, mudando o estilo de jogo dos times, com menos corridas, chutes, e passando a ter muito mais lançamentos.

Base para a aquisição de jovens talentos para os times, o “draft” universitário foi criado a partir de 1936, sendo até hoje usado pela liga como principal formador de novos atletas. Na época de sua implantação, foi definida como regra que os times não podiam tirar estudantes das universidades antes de completarem quatro anos de estudo.

A aquisição de jogadores via draft também teria que respeitar uma ordem de escolha da pior campanha para a melhor. Dessa forma, a pior equipe da liga na temporada anterior teria a chance de escolher o melhor atleta universitário, de modo a gerar equilíbrio na liga, que àquela altura contava com dez times fortes e estruturados, ao contrário do início.

Guerra gera mudança de regras

Se hoje a cada troca de posse de bola em partidas da NFL há sempre um time inteiro exclusivamente de ataque jogando contra um adversário todo formado por defensores (há, ainda, o chamado de time de “especialistas” para chutes), isso se deve à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1942.

Até o conflito armado, os mesmos 11 jogadores de futebol americano de um time faziam as funções de ataque e defesa, exatamente como ocorre até hoje com o “parente” soccer (o nosso futebol, da bola redonda). E com a guerra desfalcando os clubes - mais de 600 foram convocados a lutar pelo país -, alguns times desistiram de jogar por falta de jogadores, enquanto outros se fundiram temporariamente. Por exemplo, Steelers e Eagles jogaram a temporada de 1943 como “Steagles”.

Com elencos afetados fortemente, a liga se viu obrigada a atender a um pedido dos times para que fossem permitidas substituições ilimitadas, a qualquer momento do jogo.

Com isso, passou-se a formar atletas especializados para executarem uma única função específica – de ataque ou defesa –, e não mais ambas. A mudança na regra passou de pontual a definitiva a partir de 1950.

Casamento perfeito entre esporte e TV

Se no início o futebol americano vivia à margem do beisebol, então queridinho dos telespectadores americanos, foi a partir de um feliz casamento entre televisão e NFL na década de 1950 que o esporte da bola oval começou virar uma real ameaça na guerra dos esportes pela preferência dos fãs.

A TV passou a transmitir todas as partidas e a obter ótimas audiências com elas. A decisão de 1958 entre Baltimore Colts e New York Giants, vitória dos Colts por 23 a 17, com direito à prorrogação, quebrou todos os recordes da TV americana, com 45 milhões de telespectadores.

Uma em cada quatro pessoas assistiram na rede NBC à final, apelidada (até hoje) de “o maior jogo de todos os tempos”.

Curtiu? Compartilha